O Instituto Terroá tem como uma de suas principais abordagens de atuação o Terrarium – 7 Passos Terroá para o Desenvolvimento Territorial, que  agrega um conjunto de etapas orientadoras que visam promover o desenvolvimento sustentável de territórios. Não é uma receita pronta, mas sim passos que podem ser seguidos, orientados por princípios e métodos, que ajudam uma comunidade ou grupo de pessoas a provocarem mudanças e transformações positivas em seu local de identidade e pertencimento.

Nesse sentido, a abordagem Terrarium entende que, a partir do devido reconhecimento das potencialidades locais e da criação de um ambiente fértil e legítimo aos olhos das comunidades em seus respectivos contextos socioculturais, é possível fortalecer o senso de pertencimento, engajar a população e potencializar o seu protagonismo em prol de iniciativas e melhorias coletivas. Dessa forma, a abordagem é realizada por meio de uma sequência de 7 passos, que perpassam o conhecimento das características locais; preparar e engajar atores; avaliar desafios e potencialidades; co-criar soluções; pilotar iniciativas; institucionalizar e deixar legado; visando que a tomada de decisões e implementação de ações sejam realizadas sempre em conjunto com os atores locais.

Nossos projetos podem abranger todo o ciclo dos 7 Sete Passos ou focar em determinadas etapas, a depender dos objetivos propostos. Em cada passo existe um conjunto de ferramentas e métodos sociais, que procuram facilitar o caminhar de cada etapa. 

Neste momento, existem dois projetos que consideram todo o percurso proposto por essa abordagem: um deles está em execução no Quilombo de Itamambuca, em Ubatuba/SP, e o outro na zona norte do município de Ribeirão Preto/SP. Em ambos projetos, as ações partem de um diagnóstico participativo, buscando entender junto a comunidade local quais são os desafios, sonhos e potencialidades que existem em cada terroir (DNA próprio de cada território).

Ainda assim, como não poderia ser diferente em um mundo diverso, cada um dos projetos apresenta suas particularidades. Em especial, quando consideramos que em Itamambuca estamos tratando de uma comunidade com uma longa história de organização comunitária, essencial para a preservação de sua identidade cultural, do direito à terra e da própria cultura; além disso, essa comunidade tem uma raiz ancestral comum, o que fortalece seu senso de coletividade. Já em Ribeirão Preto, estamos diante de um projeto urbano com dimensões populacionais e territoriais maiores, em bairros onde frequentemente o desafio é construir um senso de coletividade para impulsionar projetos e ações voltados para a sustentabilidade.
Assim, compartilhando sinergias, mas respeitando as diferenças, a abordagem de desenvolvimento territorial permite que se adapte os objetivos e caminhos de maneira dinâmica.

Projeto Quilombo Sustentável – Ubatuba – SP

No Quilombo do Sertão de Itamambuca há uma experiência piloto de desenvolvimento territorial em uma comunidade tradicional. É um modelo colaborativo junto a associação comunitária, a partir do desenvolvimento de  frentes de trabalho orientadas pelos sonhos da comunidade.

O relacionamento do Terroá com a comunidade vem de 2018, quando, através do Fundo Casa Socioambiental, foi aplicado um diagnóstico participativo, de onde foram realçados os principais sonhos dos comunitários para o território.

Assim, a partir deste diagnóstico, foi construído em conjunto com a associação o projeto “Quilombo Sustentável”, aprovado no edital Petrobras Socioambiental e que está sendo implantado desde janeiro de 2023.

É um projeto de dois anos, com cinco frentes de atuação, todas voltadas à realização dos desejos e sonhos da comunidade. Dessa forma, as frentes de trabalho são lideradas pelos comunitários e a equipe do Terroá atua na facilitação dos processos, com escuta ativa e empática, prezando pelo protagonismo e autonomia da comunidade.

Dessa maneira, no dia a dia as atividades são planejadas em conjunto pela Associação e a equipe do projeto e há liberdade para realização das ações por parte dos comunitários, utilizando as ferramentas sociais do Instituto Terroá, e mesclando com as ferramentas e técnicas do modo de vida tradicional quilombola, que têm a ancestralidade como base, como mutirões comunitários para a construção das estruturas, produção na roça utilizando a técnica de coivara, rodas de conversa e de contos, entre outros.

Todas as atividades visam o desenvolvimento territorial sustentável do Quilombo, fortalecendo e fomentando o resgate das tradições e saberes ancestrais quilombola, envolvendo a estruturação de negócios inclusivos e iniciativas comunitárias para geração de renda na comunidade – como o restaurante comunitário, roça com produção agroecológica, produção de pescados e a estruturação do Turismo de Base Comunitária (TBC) – e a educação ambiental, com implantação de tecnologias sociais como ecosaneamento, compostagem e a coleta seletiva.

É uma experiência piloto, que está gerando um significativo impacto e tem grande potencial de replicação, pensando no fortalecimento e desenvolvimento territorial de comunidades tradicionais. São 70 famílias beneficiadas direta ou indiretamente pelo projeto no Quilombo do Sertão de Itamambuca, cerca de 60 pessoas engajadas nos diferentes grupos de trabalho, participando ativamente das oficinas e atividades formativas, destacando-se os 28 comunitários formados no mês de agosto de 2023, em parceria com o Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba, para atuar como monitores ambientais na condução de grupos de visitantes aos atrativos naturais, históricos e culturais da comunidade, no âmbito do TBC. O projeto, indo para seu segundo ano de atuação, volta-se agora com maior força para as articulações intersetoriais, com outras organizações do território, bem como para a promoção de autonomia da gestão da associação e das suas frentes de trabalho, para que o processo de desenvolvimento territorial siga com protagonismo da comunidade do Quilombo em interação com demais atores locais.

Desenvolvimento territorial na região Norte de Ribeirão Preto – SP

Já em Ribeirão Preto, o projeto se desenvolve a partir de uma parceria com a Secretaria de Águas e Esgotos de Ribeirão Preto – SAERP e a Caixa Econômica Federal. A proposta do Instituto Terroá busca trabalhar o desenvolvimento territorial em parte da região Norte considerando três eixos norteadores do trabalho técnico social para as ações: educação ambiental, mobilização comunitária e geração de renda. 

A partir do diagnóstico realizado no território de atuação, a equipe do projeto identificou alguns temas que poderiam ser trabalhados e que possuem sinergia com os eixos norteadores já mencionados. Os representantes de organizações públicas e da sociedade civil que participaram do diagnóstico participativo trouxeram a demanda de trabalhos que considerassem juventude, cultura, segurança alimentar, gênero, mobilização comunitária, geração de renda, entre outros temas. Com isso identificou-se a possibilidade do trabalho se desdobrar em três frentes sinérgicas, cocriadas com atores locais: as hortas comunitárias como espaços educadores ambientais e promotores de maior segurança alimentar; a geração de renda e o empoderamento feminino com mulheres do território; e o protagonismo juvenil para construção de projetos de vida e projetos de participação social, a partir de grêmios estudantis. Após 1 ano de atuação, as frentes apresentam desafios e caminhos distintos. 

A horta comunitária traz impactos importantes nas vivências de educação ambiental  para as crianças e professores da escola onde está localizada (mais de 200 crianças com seus professores e famílias), além de proporcionar a possibilidade de trabalhar com a comunidade de moradores temas relacionados à agroecologia urbana – produção de alimentos de forma sustentável e integrando diversidade de espécies. 

O grupo de gênero e renda vem atuando junto a grupos de mulheres em diferentes pontos do território, com formações coletivas e mentorias individuais, tendo cerca de 50 mulheres participado de alguma de suas atividades. 

Já os jovens estão trabalhando em parceria entre dois grêmios de escolas no território, procurando construir autonomia em suas atuações enquanto grupo, ao mesmo tempo que buscam atuar de maneira articulada com outros espaços de juventude para fomentar acessos e direitos da juventude, como a cultura, a participação social cidadã e a formação profissional. 

Assim como o projeto Quilombo Sustentável, o projeto em Ribeirão Preto entra também em seu segundo ano de atuação, e mira agora a mobilização comunitária e a articulação de redes para que os espaços construídos nas frentes acima sejam institucionalizados, tenham perenidade e sustentabilidade, para que se tornem legado e multipliquem suas possibilidades, atingindo um maior número de pessoas e replicando as estratégias em outros territórios.

Assim, o Instituto Terroá acredita que fomentar o desenvolvimento territorial é crucial, desde o diagnóstico participativo até a escolha das iniciativas a serem executadas, rumo ao sonho coletivo. Esse processo inclui a incubação de iniciativas e empreendimentos para geração de renda, educação e participação social, visando ampliar os acessos. Além disso, o Instituto trabalha na criação de mecanismos e alavancas de legado, garantindo a perenidade e sustentabilidade dos processos. Tudo isso é realizado por meio de uma articulação eficaz entre os setores e atores locais. Essas estratégias são essenciais para alcançar a localização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) promovidos pela ONU.

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